quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008


Esse meu telefone que não toca, e nunca tocou. Esse azul, aqui ao meu lado, que há cinco dias mirei entre tantos outros de tantas cores, e disse, esse é meu. E o trouxe pra casa, lhe dei espaço na mesinha de mármore, lhe dei linha, um número, e lhe daria o que mais lhe fosse preciso pra quebrar esse silêncio, que como orvalho das seis da manhã espalha pela grama gotículas que gelam, úmidade e frieza, esse silêncio, que nasce do carpete e deságua no teto, esse, que reina aqui dentro, e o telefone não toca.
Cinco dias, cinco! mas se fossem três ou quatro, eu até suportaria, como suportei há um ou dois dias. Mas cinco!, cinco não aguento, cinco não, não toca.
Tantos dias e desconheço a voz de meu telefone, desconheço as vozes que se escondem por detrás dele. Nem um trote, nem uma ligação por engano, nem telemarketing, nem nada, nada. Permaneço aqui, sentado, com a mão no gancho, ansioso, de olhos fechados, sinto na palma da não o fio em espiral, o azul, sinto a cor, que atravessa a epiderme, carne, veias,artérias, e mescla-se ao vermelho do sangue, ferve. Azul e vermelho, agora roxo percorre todos meus vazos sanguineos, roxo de hematoma. É hematoma liquido que dói dentro.
Mas não são cores de que preciso, nem tato, é audição, é o grito, o de independência. Não grito meu, nem seu, mas dele, o telefone. Que não toca.
O grito é de liberdade. O sujeito é do telefone, predicativo... meu. Minha liberdade.
Não precisa ser alto, nem baixo, nem seco, nem úmido. Nada exijo, só preciso que toque, me bata, abale toda essa estrutura de muralha que herméticamente me fecha.
Talvez ninguém me ligue porque a ninguém revelei o número, nem a você o revelei. Ou revelei? Não sei, não sabemos. Não sabemos também porque te conto essas coisas, você bem que podia me ligar, fazer vibrar minha casa num triiiiimmmmmmmmmmm!... ou seria Bipp Bipp... ou seria ... ou ... ou.
Prometo que ao tocar, eu paro esse desabafo, paro tudo, tudo! inclusive o telefone. Que agora toca, tocando, tocando... claro que não o atenderei, o deixarei assim, gerúndio, é só disso que preciso. Tirarei a mão do gancho e me concederei essa dança, ao som desse telefone que agora toca, mas nunca tocou essa música, que não sei a partir de qual telefone , do outro lado da linha, que um dia esteve também entre tantos outros de tantas cores, que alguém chegou e disse, esse é meu; me tocou.

Posted by Postado por Gian Carlo às 12:12
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