quinta-feira, 29 de outubro de 2009


Fahrenheit 451, antes de ser um filme, é um livro escrito por Ray Bradbury, que ao lado de outros dois livros ( "1984" de George Orwell, e " Admirável Mundo Novo" de Adouls Huxley) compõe três obras que criticam a maneira como a sociedade moderna é organizada. François Truffaut, adaptou o livro para o cinema, o que tornou a história conhecida mundialmente. Esta obra conta a história de uma sociedade futurista, fictícia, que vive sob um regime totalitário e opressor, em uma época em que os bombeiros ao invés de exercerem a função de apagar fogos, queimam qualquer tipo de material impresso (livros, revistas, enciclopédias, etc) que forem encontrados. Nesta sociedade a televisão funciona como um meio de comunicação de massa e um aparelho ideológico de Estado, ao lado dos bombeiros que queimam livros e funcionam como um aparelho repressor do Estado. Apesar de nesta sociedade o livro ser considerado algo maléfico, a história do filme mostra o contrário, mostra que a televisão, um meio de comunicação de massa que chegou a ser considerado pelos telespectadores como uma família, um meio de comunicação de massa que se refere ao público como "primos", é quem torna as pessoas anti-sociais. Nesta sociedade não há um olhar crítico (salvo algumas exceções) a respeito deste objeto que têm no meio da sala, as pessoas aceitam e absorvem todo conteúdo por ela apresentado, sem perceberem que este conteúdo representa os valores da classe dominante. Não há lugar para livro nesta sociedade, estes são considerados repugnantes, proibidos, causadores da infelicidade, do isolamento social, esta idéia é percebida na cena em que Linda, sente repulsa e medo, ao ver os livros que seu marido Montag lê. Mas apesar do discurso feito pelos bombeiros de que o livro é quem causa isolamento social, no desenrolar do filme vemos o contrário, nesta sociedade qual vivem é que estão submetidos ao isolamento. De acordo com idéia do estudioso Habermas, fora do convívio doméstico, da igreja, do governo, existe um espaço de interação social para que as pessoas discutam suas vidas, este espaço é denominado por ele de Esfera Pública, porém este espaço vem se diminuindo sob influência das grandes corporações e do poder da mídia, o que gera desinteresse e apatia na população. É justamente o que acontece na sociedade do filme. Nesta população as pessoas não conversam, não discutem suas vidas, são fechadas, individualizadas, distantes umas das outras, chegando ao ponto de acariciarem a si mesmos. O filme é uma ótica perfeita, a respeito dos poderes que tem os meios de comunicação de massa, os poderes que a burguesia tem de manter o controle sobre toda sociedade, por meio de uma cultura hegemônica (termo usado pelo pensador Antonio Gramsci) na qual os valores e interesses particulares da burguesia se tornam o "senso comum". É um clássico, que embora seja dos anos 60, nos ajuda a entender a sociedade atual na qual vivemos. É uma estória que prevê a importância de sermos crítico em uma época em que todos estão acomodados. François Truffaut, apesar de bem radical, tem como proposta , assim como pretende a crítica do pensador Hebert Marcuse, desmascarar as formas de dominação política de uma sociedade, que sob a forma de um mundo cada vez mais modelado pela tecnologia e pela ciência (o filme está repleto de inovações tecnológicos, como televisões grudadas na parede, uma medicina que é capaz de trocar todo o sangue de um individuo, etc), manifesta-se a irracionalidade, um modelo de organização que subjuga o indivíduo, em vez de liberta- lo. Esta obra é a perspectiva de uma sociedade, que mesmo não sendo idêntica a que vivemos hoje, tem muitas semelhanças que muitos não percebem ou fingem não perceber.

Posted by Postado por Gian Carlo às 04:55
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