É que no meio do caminho, enquanto ia voltando pra casa, do outro lado da viela, ela eu vi. A moça que ultimamente não saía do meu pensamento antes de dormir, saía do bar acompanhada de dois homens e uma garrafa de vinho tinto que dispensava a taça e despejava o líquido, direto na boca. Onde iniciava a sua noite, terminava a minha: Rua 14 de Agosto. Não que eu esteja apaixonado por Cecília, mas é que ela me emprestou alguns livros aí, é mais velha, e já a vi escrevendo algumas coisas num caderninho, usa umas roupas, uns penteados, bagunçados conforme vive.Possui um jeito dela que quero pra mim, como amiga,lhe chamar de Ciça, gostaria de tê-la, assim, não sei, acho que um pouco mais por perto, mais em meus braços, em minhas fotografias, e meus segredos, dentro aqui, menos lá, d’outro lado da ruela de mão única, com ida, e sem volta.
Da penumbra do poste eu enxergava a luz nos seus olhos. O rosto vermelho resultado do álcool, saía dançando do boteco, saltitando sobre a sapatilha preta, um amigo de cada lado e braços entrelaçados, a marca de batom no bico da garrafa, a mancha do vinho no verde da saia, e eu no oposto sem saber se sentia mais ciúmes do barbudo da direita, do ruivo da esquerda, ou da garrafa.
Sumiram os três em busca de ruas mais largas sob o céu limpo do Vale do Paraíba, a espera do eclipse, que naquela noite aconteceria. E fiquei eu, no estreito do qual vou sendo, sem sono, de olhos abertos, luzes apagadas, dois travesseiros na nuca, e Cecília no teto, gira o vestido, entorna o vinho: senti o acre de vinagre, no nublado céu da minha boca.
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